OS PAPADOS PRIMITIVOS E A PRIMAZIA PAPAL
E aí pessoal,
Ao que parece, um dos assuntos que mais fascina e ao mesmo tempo
confunde a cabeça dos interessados na história dos primórdios da Igreja é
a a questão dos patriarcados primitivos. Principalmente porque essa questão acaba remontando à questão da primazia papal,
ou seja, sobre a definição de quem é o patriarca que possui, de fato, a
suprema autoridade sobre as diversas Igrejas que compõem a Igreja
Católica.
Na nossa série de posts sobre os papas, buscamos a princípio montar
uma pequena biografia de cada um desses homens que, em algum momento,
estiveram à frente da Igreja Romana. Na cabeça de 99,9% das pessoas que
leem nossos posts, há a ideia de que a sucessão romana era considerada a autoridade máxima desde sempre. Não era bem assim.
Para falar bem da verdade, o bispo da Alexandria foi chamado pelo termo
carinhoso de Papa muito antes do bispo de Roma adotá-lo – haveria sido
João I (século VI) o primeiro bispo de Roma a ser chamado de Papa.
Entre os século IV e V, não havia uma autoridade única reconhecida como o chefe universal da Igreja. A Igreja Católica era governada por cinco bispos, chamados de patriarcas. Então, diferente de hoje, em que o governo da Igreja é uma monarquia, naquela época havia uma pentarquia (do grego: penta – cinco, e arquia – governo ou governante). Eram cinco os patriarcados:
- Roma;
- Alexandria;
- Constantinopla;
- Antióquia e
- Jerusalém.
Os patriarcados de Roma e Antióquia têm como fundador São Pedro; o de
Alexandria tem como fundador São Marcos; o de Jerusalém tem como
fundador São Tiago. Já o de Constantinopla é um caso a parte: foi
incluído a fórceps para igualar a antiga capital do Império (Roma) com a
nova (Constantinopla).
Agora, imagine que você faz parte de um contexto em que a maioria das
pessoas o veem como uma aberração, pois era assim que os cristãos eram
vistos pelos cidadãos comuns naquela época. Você precisa lutar para manter suas crenças vivas em meio ao caos geral de deuses malucos.
Imagine o patriarca de Alexandria tendo que lidar com os seguidores
de Set, Ptá, Ísis (que havia sido absorvida até pelo panteão romano) e
Amon. O de Antióquia tendo que aturar os seguidores de Marduk e
Zoroastro e outra loucura que o valha. Os ocidentais tendo que se virar
contra o panteão e o mitraísmo que dividia a aprovação do povão com o
cristianismo.
Pois é, nossa vida hoje é uma moleza! Além disso, os cânones ainda estavam sendo discutidos. Ninguém tava nem aí pra saber quem era o King on the top (ou seja, de quem era a primazia papal), estavam todos mais interessados em salvar o próprio pescoço e o das suas ovelhas, que eram as ovelhas de Cristo.
Nesse ínterim, em virtude da distância e das diferenças culturais, os patriarcas viviam quase que isoladamente. Somente Roma tinha capacidade para intervir em outras comunidades, e mesmo assim não muito.
O GRANDE CISMA DO ORIENTE
Óbvio que a questão dos patriarcados e da pentarquia acabou por gerar no final a Grande Cisma
que isolou Roma (católicos) dos patriarcas orientais (ortodoxos). Tudo
ocorreu porque o poder subiu à cabeça dos patriarcas. Não vou nem
livrar a cara do Papa de Roma disso. E faltou entendimento. Sou
católico, fico com o Bispo de Roma – por ser o único e autêntico sussessor de Pedro –,
mas lembrem-se, por exemplo, que Pedro fundou também o bispado de
Antióquia. Questões de fé, levadas ao campo político, terminam dessa
forma.
A
lista oficial do Vaticano que usamos para elaborar nossos post sobre a
vida dos papas possui dois aspectos que não podem fugir ao nosso olhar:
leva em conta a Tradição e é construída com base em fontes históricas.
Mas, naqueles tempos, o mundo não levava muito em conta as
opiniões do Santo Padre (o patriarca de Roma), não muito além da sua
área de influência. A isso nós chamamos contexto. E nesse contexto a coisa andava muito feia.
É preciso salientar que o grande problema que pode nos
impedir de enxergar claramente o significado do passado é tentarmos
observá-lo pela nossa ótica moderna. Quando fazemos isso,
tudo acaba enrolando. A questão do patriarcado é muito complexa e gera
problemas e acaloradas discussões até os dias de hoje que envolvem toda
a cristandade séria (católicos e ortodoxos).
Apesar dessa divisão ocorrida no século XI, os Patriarcas das Igrejas Católicas Ortodoxas reconhecem o Bispo de Roma como um legítimo Patriarca (ou seja, um sucessor dos Apóstolos), mas ainda não reconhecem a sua primazia, ou seja a sua autoridade suprema sobre a Igreja Univesal. Por sua vez, o Papa reconhece a autoridade dos Patriarcas do Oriente, e se empenha-se continuamente para reestabelecer a unidade com essas “Igrejas Irmãs”, por meio do diálogo ecumênico.
Espero ter ajudado a esclarecer e a despertar a curiosidade de vocês
sobre esse assunto e, com um pouco mais de pretensão, fazê-los sair de
sua zona de conforto quanto ao entendimento de nossa Igreja. É um tema
muito bom de pesquisar. Nos comentários, se alguém se interessar, vou
procurar esclarecer um pouco mais. A história dos patriarcados é muito
rica e fascinante para o entendimento da religiosidade.
Fiquem em paz.
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obs¹.: vale a pena conferir as dúvidas nos comentários do post orginal (link abaixo).
obs².: Estarei divulgando a série sobre os papas todas as sextas
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fonte:
Por Paulo Ricardo em 23/11/2011
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