E então amigos,
Nessa longa série de postagens, continuaremos agora mostrando um
pouco da vida e da obra dos Papas do Século IV. Lembrando que essa foi a
época em que deu-se a maior e pior perseguição aos cristãos da
História.
SÃO MARCELINO – Viveu
os antecedentes da Perseguição. Acuado, forneceu ao Imperador
Diocleciano as cópias das Sagradas Escrituras e segundo algumas fontes
ofereceu incenso aos deuses. O seu destino final é incerto. Não se sabe
se foi deposto ou morreu antes de abdicar. A lista oficial do Vaticano
considera-o Papa até sua morte.
São Marcelino foi enterrado no Cemitério particular de Santa Priscila
porque os cemitérios do Vaticano foram surrupiados por Diocleciano.
Resumindo, se você era cristão no século IV e dissesse que ganhou uma
coisa o Imperador provavelmente olharia pra você e diria: “Ganhou não,
perdeu, encaçapa esse malandro!”. São Marcelino foi Papa de 296 a 304.
SÃO MARCELO I -
Depois de um hiato de três anos, São Marcelo I calçou as sandálias do
pescador. Teve a difícil tarefa de puxar as rédeas para si da banda
ocidental do Império após os anos mais negros da perseguição
diocleciana. Nesse aspecto, era um sacerdote severo, pois durante os
tempos negros muitos fiéis, com medo, abjuraram.
Por ter um nome muito parecido com o do Papa anterior, sua identidade
durante muito tempo foi posta em dúvida. Creio que devemos confiar
naquilo que diz a lista oficial do Vaticano. Foi sepultado ao lado de
São Marcelino no cemitério particular de Santa Priscila. Seu papado foi
curto, começando em 27 de maio de 308 e terminando em 16 de janeiro e
309.
SÃO EUSÉBIO – Outro
papado bem curtinho, herdou a difícil missão de trazer à verdade do
Cristo os transgressores da época da perseguição. Problemas pipocavam
por todos os lados. São Eusébio foi mais paciente que São Marcelo no
trato dos fracos, que estavam, como se diz, ainda se borrando de medo.
São Marcelo mandava logo pra casa do Cara de Alho, mas São Eusébio era
adepto da penitência… Cinco mil ave-marias aqui, 3500 pai-nossos ali, um
ciliciozinho acolá, essas coisas. Pelo menos, teve a honra de ser o
primeiro Papa sepultado novamente no Cemitério de São Calisto após o
período de perseguição. A lista do Vaticano diz que foi Papa de 309 a
310.
SÃO MELQUÍADES -
Também conhecidos como Milcíades. Nessa época, temos um dos grandes
momentos da História: tendo São Melquíades como ocupante do trono de São
Pedro, foi-lhe entregue pelo Imperador Constantino, que logo após sua
conversão proclamou-se “isoapostolus”, a posição pelo édito de Milão. O
liber pontificalis nos diz que São Melquíades era africano,
mas não há fontes que localizem sua origem. Está sepultado no cemitério
de São Calisto. Papa de 311 a 314.
SÃO SILVESTRE -
Enfim um papa que durou mais que um punhado de meses! São Silvestre I
calçou as sandálias por 22 anos. Um fato raro, hão de convir. Foi em
seu pontificado que ocorreu o concílio de Nicéia, o principal concílio
da Igreja em todos os tempos, pois definiu praticamente as diretrizes da
Igreja (todos os outros são ajustes deste, exceto o Vaticano II). A
despeito disto, seu pontificado não foi caracterizado por grandes
impactos. Talvez, e isso é um argumento que encontra pouca contestação,
sua pouca atuação se deva ao fato, entre outras coisas, de que a partir
de Constantino tem inicío o cesaropapismo caracterizado pela compulsão
do Imperador achar que devia meter o bedelho em todo e qualquer assunto
da Igreja. Era um olho de furacão, de certa forma.
O Imperador Constantino teria se convertido durante seu papado mas,
particularmente, havendo estudado a História Bizantina, pude observar
relatos de que Constantino ainda sacrificava a Apolo depois da data da
sua dita “conversão”. É certo que ele batizou-se antes de morrer, mas
que tenha sido realmente um cristão devoto, no creo. São
Silvestre I foi sepultado no Cemitério Particular de Santa Priscila, e
mais tarde o Papa Paulo I transladou seus restos mortais para a Catedral
que leva o seu nome em Capite. Papa de 314 a 335.
SÃO MARCOS -
Não confundir com o Santo Apóstolo, esse aqui não era fiscal.
Obviamente que o Concílio de Nicéia não foi de cara uma unanimidade,
teve bispo gritando pra tudo que era lado pelos mais variados motivos.
A turba tava inquieta e São Marcos foi pego no meio do torvelinho. Por
conta de rebeldia, foi banido o Patriarca de Alexandria, nada mais nada
menos que Santo Atanásio, um dos maiores intelectuais da Igreja (aliás
deve ser um dos campeões também do “eu vou, mas eu volto”). Santo
Atanásio merece um post aliás, vários, mais adiante. São Marcos foi
Papa por menos de um ano, de 18 de janeiro a 7 de outubro de 336. Está
sepultado no Cemitério de Balbina na via Ardeatina.
SÃO JÚLIO I -
Durante o seu pontificado, morre o imperador Constantino. São Júlio
era um grande defensor dos postulados do Concílio de Nicéia e um
verdadeiro homem de Deus. Permitiu aos bispos que retornassem às suas
Dioceses mesmo tendo para isso que enfrentar os partidários de Ário.
Aqui temos o início da época da grandes heresias, que iam muito além do
simples gnosticismo primitivo. São Júlio era conciliador neste ponto e
escutava a todos os contrários. Temos uma Igreja cada vez mais
consolidada e ciente de seu papel na História, isso já no remoto século
IV ao contrário do que a rapaziada da sola scriptura gosta de
ficar arrotando por aí. Os arianos foram por alguns séculos os
principais inimigos da fé. Foi Papa de 337 a 352 e seus restos foram
sepultados no Cemitério Calepódio, na via Aurélia.
LIBÉRIO –
Vejam, ele é o 36º papa e o primeiro a não ser canonizado. Após, no
seguimento da lista, tem um monte deles que ainda o foram. Para ser mais
exato, pulando Libério, todos os Papas seriam santos até o 44º. Bom,
mas se Libério não foi canonizado é porque há bons motivos, e esses
motivos têm relação com passagens ainda obscuras de sua vida. A questão
da condenação de Santo Atanásio (olha ele aí de novo, esse hômi era
lascado!) é um exemplo.
Saibam, meus amigos, que Libério é o Papa mais citado nos meios
intelectuais quando a questão é atacar a infalibilidade papal. Vou
resumir, mas o assunto até merece um desdobramento. As determinações do
Concílio de Nicéia não foram aceitas e respeitadas por todos logo de
cara. Principalmente pelos principais hereges da época, seguidores de
Ário: os arianos (não confundir com nazista, bem, não confundir muito…).
Santo Atanásio era um ortodoxo ferrenho, e Libério o acompanhava.
Acontece que Constâncio, o Novo Imperador, tava mais para Ário do que
para Atanásio. Mais uma vez, lá se foi Santo Atanásio: banido pelo
Imperador. Libério recusou-se a assinar sua condenação que, ipsis letteris, seria
afirmar que os arianos estavam certos. Libério foi em cana e depois
foi banido para a Trácia (olhando o mapa da Europa, mandaram o Papa para
a Bulgária). O certo é que, depois de dois anos, Libério apareceu de
novo. Pior que isso, foi acusado pelos ortodoxos de assinar o credo
ariano.
Aí danou-se né? Bom, a questão é que NINGUÉM SABE AO CERTO O QUE
ACONTECEU NESSE PERÍODO DE DOIS ANOS. Santo Atanásio ficou fulo da vida
e acusou Libério. Resumindo, não dá pra ser Santo sendo um frouxo. Ao
que parece, Libério se borrava de medo de Constâncio. E, no final das
contas, quando o Imperador morreu, Libério voltou-se contra os seus
queridinhos arianos. A imagem que Libério passou para a história foi de
um medroso, mas não devemos ser levianos em história, história leviana é
coisa de historiador marxista. Há argumentos prós e contras, mas na
verdade NENHUM DELES TEM BASE DE SUSTENTAÇÃO PARA QUESTIONAR A
INFALIBILIDADE. Sejamos coerentes, caso houvesse, já estariam sendo
jogados na nossa cara faz tempo. Tenho muitas dúvidas com relação a
Libério e ainda não consegui chegar a uma conclusão. Papa de 352 a 366.
SÃO DÂMASO –
Era diácono de Libério e o acompanhou no exílio. São Dâmaso incentivou
o culto aos mártires e fez uma grande restauração nos túmulos dos
primeiros Papas. Na confusão instaurada na cidade de Roma pelo
Imperador que meteu até um “co-papa” impopular para governar ao lado de
Libério, São Dâmaso se viu ao serviço desde (Félix II). Coube a São
Dâmaso por ordem na casa. Combateu as heresias com firmeza e instituiu o
latim com língua litúrgica. Papa de 366 a 384.
SÃO SIRÍCIO – Primeiro
Papa a publicar decretais. Em 386 envio nove cânones a diversas
igrejas na África dizendo que nenhum bispo poderia ser consagrado sem o
conhecimento da Sé. Foi o Papa que instituiu as indulgências para os
arrependidos. Por causa de suas discussões com São Jerônimo, seu nome
foi excluído do martiriológico e só foi acrescentado novamente por Bento
XIV, em 1748. Está sepultado na Basílica de San Silvestro, perto do
cemitério de Santa Priscila. Papa de 384 a 399.
A Seguir, os papas do século V e a Queda do Império Romano do Ocidente.
Por Paulo Ricardo em 11/10/2011
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