Voltamos,
Começamos esse segundo e último post sobre a Lenda da Papisa Joana citando literalmente o Professor Lockwood:
“A moral do século XXI sobre a lenda da Papisa Joana é clara: a Igreja teme mulheres poderosas, a Igreja tem propositadamente posto fora de forma literária qualquer menção a mulheres poderosas de sua história, e a tradição persistente do celibato sacerdotal resultou do ódio às mulheres.”
O fato do celibato ser uma norma estabelecida séculos antes da existência dessa lenda parece não ter a mínima importância para os produtores do documentário da rede ABC NEWS
(citado no post anterior). Cadê a isenção? O lance é ser o mais
anticatólico possível e falar mal da Igreja? Parece-me que sim.
John Peter-Pham nos diz que do
século XIII ao século XVII a existência da papisa era aceita como fato
histórico. Foi um dominicano que, por volta de 1250, deu as linhas
gerais da lenda. Seu nome era Jean de Mailly. Aqui, Joana é colocada
como sucessora do Papa Vitor III. Um outro dominicano e um franciscano
embarcaram nessa, mudando a data do Pontificado de Joana, e Martin
Troppan inclui seu nome na “Crônica de Papas e Imperadores”. O nome
adotado por Joana seria “João Ânglico”. Junte-se um detalhe aqui e ali
e… Habemus lorota.
Até
o poeta humanista Boccaccio se intrometeu nessa história. No século
XIV, Boccaccio usou a história de Joana para atacar a Igreja. O
bobalhão João Huss, um dos precursores mais perniciosos de Lutero,
utilizou-se também dessa conversa fiada.
David Blondel, protestante, foi quem botou água no chopp da turminha da Sola Scriptura. O
holandês era um estudioso sério e um historiador de verdade.
Resultado: foi perseguido, humilhado e vilipendiado pelos seus pares.
Um outro “historiador”, Pierre Bayle, diz:
“O interesse protestante requer que a história de Joana seja verdadeira”.
Os artigos que estamos postando sobre os papas, em si, são a refutação mais óbvias da lenda da Papisa Joana. Não há lacunas das fontes em nenhum dos períodos em que a turma tentou encaixar Joana.
Seu Papado seria entre 855 e 857, logo após Leão IV. Probleminha:
Bento III foi eleito logo em seguida a morte de Leão. E essa eleição é
especialmente bem documentada em virtude de um fato inusitado que a
transformou numa barafunda: o Imperador Bizantino era menor de idade
(Miguel III, que ficou mais tarde conhecido com a alcunha de “O
Alcóolatra”); Bento III é um caso raro de aclamação em que o povo faz do
indivíduo Papa “na marra”: ele foi arrancado de suas orações e levado
pelo povo ao trono de São Pedro. A confusão adveio do fato de
partidários do Imperador colocarem no trono um anti-papa chamado
Anastácio. Bento foi o Papa justamente nesse período de tempo atribuído a Joana. Cadê o tempo hábil pra papisa “papisar”?
Ademais, passaram-se 400 anos até
alguém mencionar a dita Joana, lembram-se? O que foi? Amnésia coletiva?
Um papado de três anos em que nada aconteceu? E Bento III? Como podem
ver, foi tudo uma empulhação.
Lockwood diz que duas questões permanecem: onde surgiu a lenda e porque ainda hoje ela nos azucrina. Há 4 hipóteses:
- A fonte mais remota seria um conto popular romano;
- O Papa João VIII, que seria a “inspiração” para a fábula de Joana e foi o primeiro Papa vítima de conspiração palaciana no Vaticano, seria afeminado. Realmente, as imagens do papa que nos chegam são meio… assim… Bom, afeminado não é sinônimo de gay;
- Era uma forma de desmoralizar o Papa Sérgio, antecessor de Leão IV, que, dizem, muito antes de Alexandre VI, fazia coisas que deixariam o Papa Bórgia corado de vergonha, pois era um devasso de primeira linha;
- Uma “vingancinha” do Imperador Miguel III, o cachaça… quer dizer, alcoólatra.
Pra encerrar e pensar. Vocês não acharam que o paganismo entregou os pontos fácil não é? Vemos na origem do mito traços da cultura pagã, um mito vestal, tão querido pelos humanistas.
A lenda de Joana é degradante e sobreviveu porque se adapta a ordem do dia de humilhar os católicos.
Fiquem com Deus e perseverem na fé.
Por Paulo Ricardo em 15/09/2011
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