Meus
amigos do Facebook já estão acostumados a entrar, pela manhã, na página
principal de seus perfis e se depararem com o meu “bom dia” e um breve
comentário a respeito de Ortodoxia. Esse livro – ótimo, por
sinal – foi escrito por uma das mentes mais geniais do catolicismo: G.K.
Chesterton. Na obra, além do notável escritor nos brindar com seu
testemunho de conversão, ele também nos demonstra como o cristianismo
está acima de qualquer sistema filosófico que já existiu.
Dentre os nove capítulos de Ortodoxia, “A ética da Elfolândia” foi
o que mais me chamou atenção. Por quê? Bom, nesse trecho, G.K.
Chesterton leva-nos a observar com outros olhos os contos-de-fadas que
tanto nos encantaram durante nossa infância. E mais. Chesterton nos
prova que eles existem!
Ora, mas como ele faz isso? É o que pretendo responder a partir de agora.
G.K. Chesterton em “A ética da Elfolândia” faz-nos
enxergar a reação de espanto de uma criança e a sua capacidade de
surpresa até mesmo com acontecimentos minúsculos. Nós, adultos, já não
somos capazes de nos encantarmos com as histórias dos Irmãos Grim, mas
uma criança é capaz de se surpreender com um simples abrir de porta. É
essa inocência que permite aos pequenos perceber que há no mundo uma
Razão que opera as coisas conforme a sua Vontade.
O que quero dizer com isso? Vejamos:
Pensemos
no mundo real, onde vivemos, e na Elfolândia. Que duas árvores mais
duas árvores sejam iguais a quatro isso não é surpresa para ninguém.
Muito menos na Elfolândia. As razões matemáticas são inalteráveis.
Porém, no país dos elfos, essas quatro árvores poderiam estar deitadas,
de cabeça pra baixo, flutuando e é aí que nos assustamos quando vemos
que no mundo real elas estão exatamente com as raízes no chão.
Na
Elfolândia, as crianças podem nascer de repolhos ou serem trazidas por
cegonhas. Quando voltamos para o mundo real, descobrimos que temos uma
mãe. E assim, passamos a amá-las.
Nós,
adultos, já marcados pelo orgulho e pelo racionalismo, acreditamos que
isso tudo seja simplesmente resultado de uma lei física. Mas não é. É
mágica. Não há necessidade nenhuma que obrigue as maçãs a serem vermelhas. Elas poderiam ser azuis, amarelas, rosas e as crianças se surpreendem exatamente por elas serem vermelhas. Isso só pode ser mágica.
Assim, Chesterton manifesta seu sentimento de espanto ao afirmar:
Eu sentia na alma: primeiro, que o mundo não se explica a si mesmo. Pode tratar-se de um milagre com uma explicação sobrenatural; pode ser um truque de mágica com uma explicação natural. Mas a explicação do truque de mágica, para eu considerá-la satisfatória, terá de ser melhor do que as explicações naturais que ouvi. A coisa é mágica, verdadeira ou falsa
Por
conseguinte, Chesterton ainda argumenta que essa mágica pressupõe um
sentido, “e esse sentido deve ter alguém que lhe dê origem”. Esse alguém
só pode ser Deus.
Assim, um elefante de tromba era bizarro; mas todos os elefantes com trombas parecia uma conspiração
G.K. Chesterton descobriu isso. As
crianças já o sabiam há muito tempo. Não é à toa que é delas o Reino dos
Céus. Elas conseguem captar aquilo de mágico, simples e puro que há no
mundo. Elas conseguem interrogar a natureza, como pedia Santo Agostinho,
e encontrar nela Deus.
Quando crescemos, ficamos tristes por já
não podermos brincar, nem ao menos acreditar em fadas. O que nós não
sabíamos era que podíamos sim!
Talvez, já não possamos entrar no
guarda-roupa e passearmos por Nárnia, mas podemos entrar em uma Catedral
e passearmos pelo Paraíso. Talvez, não possamos mais presentear a
princesa Aurora junto às três gentis fadas, mas podemos presentear o
Menino junto aos Três Reis Magos. Talvez, já não possamos encontrar
Aslan e passear nas suas costas, mas podemos encontrar o Leão de Judá e
repousar em seu colo. Talvez não possamos mais subir a Montanha da
Perdição, juntamente com Sam e Frodo, e destruirmos o anel, mas podemos
subir ao Calvário, juntamente com Cristo, e destruirmos nosso pecado.
E o melhor de tudo: podemos repetir a
brincadeira quantas e quantas vezes quisermos. É como o DVD, ou melhor,
VHS que retornávamos mil vez para ver de novo as mesmas e mesmas cenas.
Deus também não se cansa. Todos os dias Ele diz ao Sol e à Lua: e aí, vamos de novo?
Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. É possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: “Vamos de novo”; e todas as noites à lua: “Vamos de novo”. Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode ser que ele tenha um eterno apetite de criança, pois nós pecamos e ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós. A repetição na natureza pode não ser mera recorrência; pode ser um BIS teatral. O céu talvez peça BIS ao passarinho que botou um ovo
Deus também não se cansa de nos amar. E Ele nos amará quantas vezes for preciso até nos tornarmos inocentes como os pequeninos.
Assim, gostaria de fazer um convite a você: Vamos de novo?
Por Aslan e por Nárnia!
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