Era
o século XVIII. Alguns iluministas vadios estavam reunidos em uma
taberna, bebendo e falando asneiras. Entre uma piada infame e outra, de
repente, um gaiato solta essa: “Aí, quer saber? Os padres são tão
estúpidos que, na Idade Média, pregavam que a terra era plana!”.
Explosão de risos… Pronto! Nascia aí uma das mais famosas calúnias
anticatólicas.
A cena acima fica por conta da minha imaginação. Mas não deve ter sido nada muito diferente disso. O fato é que a historinha vil sobre a negação da esfericidade da Terra foi inventada por intelectuais iluministas, que (a exemplo de Voltaire) estavam sempre prontos a ridicularizar a Igreja.
Saca a lenda da cenoura do Mário Gomes? Então… foi mais ou menos
assim que aconteceu. O boato da crença católica na Terra plana foi tão
bem espalhado que, com o tempo, se tornou “verdade”. Foi ganhando
informalmente as ruas, virou conto, depois peça de teatro… E a corja viu
que o embuste tava fazendo tanto sucesso, que valia muito a pena
divulgá-lo por meios mais “sérios”, como livros, jornais e
universidades. Mas acho que nem esses canalhas poderiam imaginar o tanto
que o mito duraria, e nem o tamanho do estrago que ele faria no Corpo da Igreja.
Passaram-se três séculos após a criação do mito, e tá lá a Tia Cocota
ensinando para as criancinhas que a Igreja sempre foi inimiga da
Ciência e fazia carvão de qualquer um que dissesse que a Terra era
esférica. Moral da história: “só pessoas burras, ingênuas ou fanáticas
podem levar a sério o que a Igreja Católica diz”. Aí você entende
aquelas centenas de jovens entrando e saindo das catequeses ano após
ano, com um certificado de “crismado” debaixo do sovaco, mas com os
corações e mentes fechados para Cristo.
Por isso, conforme o Senhor nos solicitar por meio das circunstâncias
da vida, precisamos estar prontos para esclarecer as pessoas sobre os
FATOS. Esse nhe-nhe-nhém de Terra chata já deu!
O CAÔ
“Na Idade Média, a Igreja ensinava que a Terra era um disco plano (ou pior: que era quadrada!), baseando-se na sua interpretação da Bíblia. Os cientistas que ousavam dizer que ela era esférica eram tostados na fogueira.
“Por isso, os navegadores europeus acreditavam que, se chegassem até a
linha do horizonte, seus navios cairiam em um grande abismo. A viagem de Colombo, em 1492, destruiu finalmente essa crendice”.
Aff…
A VERDADE
Escultura medieval de Carlos Magno. Acervo do Museu do Louvre - Paris.
Em 1473, quase 20 anos antes da citada viagem de Colombo, foi publicado o Tractatus de Sphaera Mundi (sphaera =
esfera), um manual de astronomia e geografia com o maior número de
edições até hoje. Era muito utilizado pelos portugueses durante a era
das grandes navegações. Repararam bem no nome da obra? Já diz tudo sobre
o que os navegadores medievais pensavam sobre o formato da Terra.
O livro Sphaera é, portanto, uma
fortíssima evidência de que a esfericidade do globo terrestre era um
fato bem reconhecido na época. Detalhe: o autor foi John Holywood
(Sacrobosco), monge inglês – sim, mongeeeeeee! – e Professor de Astronomia na Universidade de Paris – sim, aquela fundada e mantida pela Igreja.
Aliás, os escolásticos (professores universitários medievais, grande parte deles sacerdotes) eram grandes conhecedores de Aristóteles e
o tinham como uma de suas principais referências. E adivinhem que
formato esse célebre grego achava que a Terra tinha? Esférico!
Claro, sempre tem uma ou outra anta falando antices. Existiram sim
alguns poucos autores medievais que afirmavam que a Terra era chata;
porém, eles foram exceção, e geralmente eram desconsiderados pelos
pensadores influentes da época. Por outro lado, os intelectuais
católicos da Idade Média de maior relevância afirmavam a esfericidade da
Terra. A seguir, dois grandes exemplos:
- São Tomás de Aquino, o maior filósofo da Idade Média, afirma a esfericidade da Terra da Suma Teológica (10);
- Dante Alighieri, talvez o maior poeta da Idade Média, cita o termo “globo” para se referir à Terra na Divina Comédia – Paraíso (8).
E, para quem acha que uma imagem vale mais do que mil palavras, vale dar uma olhadinha na foto acima. Trata-se de uma escultura Carlos Magno, o Grande,
feita por volta do ano 900 – ou seja, mais de 500 anos antes da tal
viagem de Colombo. É… ele está segurando um globo nas mãos. Não, não
devia estar indo jogar boliche e nem tampouco tomando água de côco;
aquilo é mesmo a esfera da Terra, representando o seu grande poder
imperial. Pra quem não leu o nosso post sobre Carlos Magno, é bom ressaltar: o homi é uma das personalidades católicas mais importantes de todos os tempos!
Porém, a prova mais emblemática de que fomos desavergonhadamente
caluniados ao longo desses séculos é dada por uma Criança: pela Europa
inteira há numerosas esculturas medievais que mostram o Menino Jesus, sentado no colo de Sua Mãe, segurando uma esfera. Vai dizer que é a bolinha de brinquedo que Papai Noel deu pra Ele?
Fonte:
RUSSEL, Jefrey Burton. Inventando a Terra Plana. São Paulo: Editora Unisa, 1999.
Russel é historiador e pesquisador da Universidade da Califórnia.
*****
Se
você não conhece a história da cenoura do Mário Gomes, não me peça para
contar. Isso aqui é um blog de família. Vá procurar no Google!
Por A Catequista em 25/01/2012
Fonte: O Catequista
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