18 de fev. de 2012

Hipocrisia do nosso tempo: a enfermeira de Goiás e os anencéfalos do Brasil

 
Reprodução

Tenho acompanhado a gritaria contra a enfermeira de Goiás, que espancou cruelmente um cachorro até a morte. O vídeo da ação dessa jovem é realmente chocante. Movimentos de defesa dos animais exigem que ela seja punida exemplarmente, alguns exagerados desejam a morte para a enfermeira. Argumentam: se um cachorro matar uma pessoa, o cão é sacrificado; ora, uma pessoa matou um cachorro. Qual seria a pena nesse caso? Obviamente, é uma provocação, mas indica já o estado de espírito dos que viram a violência e a desproporção da ação da enfermeira contra um pequeno cachorro. Causa maior comoção ainda ver o pequeno cão, acoado, tremendo, quase prevendo o que está para acontecer. O que leva alguém a fazer violência até a morte para um outro, cuja defesa é impossível? Talvez essa seja a razão pela qual o vídeo cause tanta comoção, tanta revolta, induzindo a pergunta: quem vai nos proteger, se violência desse calibre não é punida?



Reprodução - Pois é, se um crime violento não dá cadeia, quem nos protegerá?


No entanto, é justamente a grande repercussão deste vídeo, é a grande revolta contra a enfermeira o problema a ser resolvido. Por que há tanta gritaria contra a morte injusta e cruel de um cachorro enquanto nada é feito diante do assassínio de milhares de crianças no Brasil, com maior frieza e vilania? Por que exige-se punição criminal exemplar para a enfermeira, enquanto pretende-se descriminalizar o assassinato mais grave, mais pernicioso, mais cruel, que é o assassinato de crianças por meio do aborto? Nosso país, através do senado brasileiro, pretende tornar a morte de crianças anencéfalas uma prática normal, descriminalizando essa ação. Diante da morte de um bebê, acoado, tremendo no útero materno, o que é a morte de um cachorro? É razoável levantarem bandeiras e ações contra a morte de um cão e calarem sobre a morte de seres humanos? Não há nada de perigoso nessa inversão de valores?

Mas numa coisa esse movimento de repulsa ao assassinato do cãozinho tem razão: se um ato violentamente mortal, sem defesa para a vítima, de crueldade inimaginável, se esse ato não é punido pela lei brasileira, o que resta? Quem defenderá os cidadãos se nem crime tão bárbaro é defenestrado da nação brasileira? De outro modo: que crime poderá ser coerentemente coibido no Brasil se o estado disser que matar o próprio filho no seio materno não é crime algum? Se uma mãe pode matar seu filho, o que não pode? Vivemos em um tempo estranhamente muito hipócrita!

21 de dezembro de 2011
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