Vamos Jogar pôquer, “seu”
diabo?
Eu sei que estarei arriscando, ou mesmo comportando-me de um modo meio
maluco: Mas… Sempre desejei jogar pôquer com o diabo.
O convidei e o diabo aceitou!
Começamos o jogo…
Ele jogou a primeira carta; nela estava
escrito PREOCUPAÇÃO.
O diabo usa esta carta com freqüência: preocupação com o passado, preocupação
com o presente, preocupação com quando eu penso que não sou um sucesso,
preocupação quando estou cheio de ambição e cheio daquele sentimento de
afirmação da minha personalidade, preocupação quando começo a sentir ciúmes,
preocupação quando penso o que os outros estão falando de mim, preocupação sobre
aminha idade avançada…
E como ele é um bastardo! Ele continua a me atormentar com dores de cabeça,
dores de estômago… e assim por diante. Vamos reconhecer a primeira carta que ele
jogou foi escolhida de maneira muito inteligente.
Graças a Deus que Jesus está perto de mim. Eu mostrei a Jesus a carta que o
diabo jogou, e imediatamente Ele abriu a Bíblia para mim. Vieram-me a mente as
palavras que Jesus disse a Pedro, quando este se debatia contra as ondas do mar
e gritou a Jesus: “Mestre, Mestre, estamos perecendo”. E Jesus disse a Pedro – e
agora está dizendo também para mim – “Onde está a tua fé?”(Lc
8, 22-25).
Rapidamente peguei a minha carta e a joguei na frente do
diabo: FÉ.
Eu o vi tremer… Senti que ele ficou com medo. Ele percebeu que havia perdido
sua primeira carta.
Ele embaralhou e me jogou sua segunda carta: CANSAÇO.
Criatura maldita: Meteu-me outra vez numa arapuca.
Cansaço… Por que o trabalho se transformou no meu ídolo.
Cansaço… Por que eu me esqueci do significado do “descanso”.
Cansaço… Por que eu penso que o mundo está em minhas mãos,
Cansaço… Por que eu quero fazer tudo sozinho. Eu só aceito coisas que EU
faço.
Cansaço… Por que, quanto mais eu trabalho mais eu sinto que tenho que
trabalhar.
Cansaço… Por que, por conta do meu trabalho, eu me sinto desequilibrado, sem
equilíbrio verdadeiro em minha vida.
Eu vi que ele estava sorrindo. Ele está certo. Ele teve seu lance de
sorte.
E, portanto, eu me voltei para o meu Mestre e Lhe pedi para me ajudar.
Abri a Bíblia e Jesus pediu-me para olhar as aves do céu e os lírios do
campo. Ele me pediu para pensar apenas no dia de hoje, por que o dia de hoje já
tem o seu próprio fardo.
“Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as
suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.” ( Mt 6,
34).
Fiquei então aliviado e joguei diante dele a minha segunda
carta: CONFIANÇA.
Vi que ele ficou com raiva. Ele percebeu que havia perdido também a segunda
carta.
Novamente, embaralhou e jogou a terceira
carta: AMARGURA.
Desta vez fui eu quem começou a tremer. Ele percebeu que, no meu intimo, eu
sentia uma amargura com relação àquelas pessoas que um dia me prejudicaram, com
relação àquelas pessoas que um dia me feriram. Eu sentia raiva daqueles que um
dia levaram vantagem sobre mim. Eu estava pensando em me vingar daqueles que um
dia me trataram mal. Eu cultivava amargura com relação àquelas pessoas que não
gostavam de mim.
E com esta carta que o diabo jogou na minha frente ele continuou a ferir meus
sentimentos.
Minha cabeça começou a ficar maluca, pensando como eu iria dar o troco.
Meu coração começou a se endurecer contra aqueles que se tornaram meus
inimigos.
Eu estava perdido… por pouco não joguei meu baralho para o ar, declarando-me
derrotado.
Mas Jesus bateu-me no ombro e me pediu para abrir a Bíblia novamente.
E então Ele me disse: “Digo-vos a vós que me ouvis: amai os vossos
inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai
pelos que vos injuriam.” ( Lc 6, 27-28).
Encontrei a carta certa e a joguei na frente do
diabo: PERDÃO.
O diabo levantou-se cheio de raiva. Eu vi o fogo e o ódio saindo dele. Esta
carta é quente demais para ele. Ele não agüentou.
E aumentou a raiva dele contra mim. Ele não suportava a idéia de esta
perdendo.
E, portanto, ele procurou atentamente pela quarta carta e com toda aspereza
jogou-a na minha frente: DINHEIRO.
O dinheiro deixa todo mundo cego, e eu não sou nenhuma exceção.
Eu sempre achei que este não é um problema meu, até que o diabo começou a
cochichar no meu ouvido e mostrar-me a beleza do dinheiro.
Com o dinheiro, você pode fazer muita caridade; você pode patrocinar muitas
ações boas em benefício dos outros; você pode construir uma estrada no mar! Você
pode abraçar e beijar; você pode se independente, e assim você não se torna um
fardo para ninguém; você pode evitar muitos problemas e assim viver serenamente.
Portanto… o dinheiro é maravilhoso.
Eu via o dinheiro brilhando… simplesmente deslumbrante…
E quase acabei adorando o dinheiro como a um bezerro de ouro.
O diabo percebeu que eu já estava caindo na armadilha dele e sorriu pra
mim.
E ele me tranqüilizou dizendo que estava pronto pra me ajudar a adquirir
mais… e mais… e mais…
Como eu me senti atordoado, esqueci que Jesus estava perto de mim.
Mas, ai de mim! O próprio Jesus se quisesse poderia me dar muitas riquezas.
Ele não tinha problema algum em competir com o diabo, se quisesse. E daí?
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças
corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu,
onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem
roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu
coração.( Mt 6, 19-21).
Achei a minha quarta carta e joguei: CÉU.
Ele também perdeu a quarta carta.
Chegamos á última carta. O diabo parecia ter uma carta muito boa em sua mão.
Ele estava muito satisfeito com a carta que tinha. Ele se mostrava seguro de
que, com esta carta, ele iria vencer. Foi por isso que ele deixou esta carta por
último.
Com um olhar descarado e um sorriso fingido, com um semblante malicioso, com
uma gentileza falsa, como se quisesse ganhar tempo, ele jogou sua última
carta: DESÂNIMO.
Esta carta não é uma piada. Com ela, muitos perderam a paz no coração; com
ela ele tentou a maioria dos grandes santos; com ela, ele até tentou enganar
Jesus no Getsêmani e no Calvário.
E com esta carta ele tentou também a mim.
Desanimado… Diante do meu crescimento espiritual demasiado lento.
Desanimado… Diante dos meus pecados que nunca consegui superar.
Desanimado… Diante dos sofrimentos da vida.
Desanimado… Quando minhas orações não são ouvidas.
Desanimado… Diante da secura e do deserto pelos quais ás vezes eu passo.
Senti que ia desistir. Senti já estar sem força alguma. Eu me senti sendo
lançado ao chão, como um lutador de boxe deitado no ringue depois de levar um
nocaute.
Com um semblante em frangalhos, olhei para Jesus. E ele me disse:
“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos
aliviarei.” (Mt 11, 28).
Imediatamente Joguei minha carta diante de
Satanás: JESUS.
Diante da minha carta – JESUS – Satanás fugiu.
A perda dele é irreparável.
Eu fui maluco… Eu arrisquei… Eu exagerei… Mas venci.
É arriscado jogar com o diabo, mas meu risco foi calculado, porque o jogo de
verdade não é entre mim e ele, mas entre mim e Jesus.
Acertadamente o Cardeal Suenens diz que o centro da teologia não é a
Demonologia, mas sim a Cristologia.
Falamos a respeito do diabo, não para dar alguma importância a ele, mas para
mostrar o poder de Cristo, que foi vitorioso sobre ele e o humilhou.
O Evangelho é a Boa-nova. Realmente, devemos nos sentir radiantes de alegria,
por que somos o povo Pascal.
É uma pena que muitos cristãos vivam com um medo obsessivo do diabo. Eles
vêem demônios em todo lugar e temem o tempo todo de que Satanás vai
traí-los.
É claro, de maneira alguma queremos diminuir o poder de Satanás tem contra
nós, mas, por outro lado, nossa obsessão deve ser com relação a Cristo, e não
com relação ao diabo.
Cristo ressuscitou da morte! Cristo venceu!
E assim nos tornamos o Povo Pascal, e nosso hino é ALELUIA!
Texto extraído do livro O Anti-Cristo – Quem é e como age. Frei Elias
Vela.
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