Depois da Série “Carlos Magno”,
voltamos à programação normal. E, para começar esse post, falamos do
Papa que colocou a coroa na cabeça de Big Charles. Com vocês…
Leão III – Eleito
por unanimidade, Leão III não foi um Papa amado pelas elites políticas
de Roma. Irritou tanto a rapaziada que, durante uma procissão em 799,
foi arrancado de sua liteira, foi espancado, tentaram arrancar sua língua e seus olhos e
o largaram para morrer, sangrando na rua. Seus diáconos o levaram para
o mosteiro de São Erasmo e aplicaram-lhe a extrema-unção, e depois
esperaram pela sua morte.
Milagrosamente, o Papa se recuperou e resolveu picar a mula,
atravessou os Alpes a pé (podes crer, o velho era durão) e foi ter com
Carlos Magno. O resto vocês já sabem de ler a história do imperador.
O brilho natural de sua enormidade real ofuscou Leão III, que passou a
ser “aquele papa que coroou Carlos Magno”. Mas Leão foi um grande
administrador dos Estados Pontifícios e criou junto com Big Charles uma vesta rede de atendimento social, muito melhor que o Fome Zero.
Curiosidade: Leão III partiu para encontrar o Criador no mesmo dia em
que eu nasci: 12 de junho. Não é relevante? Pra mim é… Papa de 795 a
816.
Estêvão IV -
Se Leão III foi o primeiro Papa a coroar um Imperador, Estevão IV foi o
primeiro a ungir um. O ungido em questão foi Luís, O Impiedoso. Para
quem não captou a importância: Estevão IV foi o responsável pela
inversão do costume em que o Imperador era quem aprovava a eleição do
Papa.
Estêvão IV era um homem da paz e conseguiu o perdão do imperador para
os conspiradores que tentaram fazer uma “extração oftálmica” em Leão
III. Papa de 816 a 817.
São Pascoal I -
São Pascoal foi eleito Papa em 24 de janeiro de 817. A comunicação de
sua eleição foi feita a Luís, e esse a acatou prontamente. Foi São
Pascoal que conseguiu junto ao Imperador a demarcação dos Estados Pontifícios, bem como a confirmação de que não haveria intervenção estatal em assuntos clericais.
No papado de S. Pascoal I celebrou-se pela primeira vez a Assunção da Nossa Santa Mãe (819).
Pascoal I era um grande mestre da Sagrada Escritura e dos trabalhos eclesiásticos.
O maior estremecimento do seu papado com o poder temporal deu-se não
com o bom Luís, mas com seu filho e sucessor Otário, err…, quer dizer,
Lotário. O “Júnior”, ao julgar uma questão envolvendo o pagamento de
tributos à Santa Sé, deu razão ao abade reclamante (lá vem o estado se
metendo onde não foi chamado). Isso se deu porque a aristocracia
palaciana queria o procedente para calotar geral e minar a influência da
Igreja. Entendam, a Igreja não estava espoliando ninguém, estava
apenas administrando as suas sedes espalhadas pelo Império. Ganância e
politicagem rastaquera sempre existiram.
Bom, voltando ao Papa, São Pascoal foi também um grande construtor. Durante um sonho, Santa Cecília avisou-o da localização do corpo desaparecido de São Leão I:
estava ao lado do de São Valeriano, o jovem esposo mártir de Santa
Cecília. A partir daí, São Pascoal providenciou o translado de 2300
corpos de cristãos.
Destacou-se ainda na proteção dos espanhóis e cristãos peregrinos contra os muçulmanos.
Segundo as fontes, abandonou um pouco seu rebanho em Roma, razão pela
qual não consta como um dos Papas mais pop. Ninguém é perfeito além do
Pai, certo? Coroou Otário, digo, Lotário em 823. Papa de 817 a 824.
Eugênio II -
Pra variar, Roma vivia uma época conturbada ante a necessidade de
escolher um novo ocupante para o Trono de Pedro. Eugênio II deve muito
de sua eleição à lenda do monge Wala, confessor de Luís, O Piedoso, e de
seu filho (com nome sempre sujeito a trocadilhos infames) Lotário.
Wala intercedeu a favor de Eugênio, que jurou fidelidade ao papi Luís e
sentou junto com Lotário para redigir uma “Constituição Romana”.
Por essa, o povo voltou a participar da eleição do Papa, coisa proibida desde Estevão III. Os termos da nova Constituição foram ratificados. É a Eugênio II que se atribui a criação dos seminários e a fundação da cúria romana. Papa de 824 a 827.
Valentino -
Valentino foi um papa brevíssimo, seu papado durou 40 dias, e as fontes
não falam muito profundamente de suas realizações. Sabe-se que ele era
muito querido pelo povo, pelo clero e pela aristocracia. Era, tipo
assim… um Padre Marcelo Rossi da época, e grandes expectativas
depositavam-se sobre ele. Como papa, nada fez (não deu tempo, coitado) e
seu nome entrou para história como o de uma grande frustração. As
condições de sua morte permanecem um mistério. Papa em 827.
Gregório IV -
Ih, essa que vou contar agora é engraçada. Gregório IV queria tanto,
mas tanto ser São Gregório I que, quando foi eleito, saiu correndo. Só
que, ao contrário do seu homônimo, não teve línguas de fogo, não teve
Espírito Santo apontando o caminho de seu esconderijo aos que o
procuravam. Simplesmente acharam-no e levaram de volta para Roma.
Gregório IV, perto de São Gregório, é uma imagem muito, muito
apagada. Politicamente era um desastre. Jurou fidelidade ao imperador
Luís e, logo que começaram as disputas carolíngias pelo trono, apoiou
Otário, ops, Lotário. Os bispos franceses ameaçaram excomungar Gregório,
mas, mesmo sob impropérios, ele manteve sua posição.
O papel de Gregório nessa confusão foi vergonhoso. O imperador Luís o
respeitava e o aceitou como negociador de um acordo entre os
litigantes. Gregório foi ao acampamento de Luís e acertou um acordo que
considerou razoável. Ao retornar, descobriu que Lotário o havia
enganado para ganhar tempo e encarcerar o próprio pai (é o não é um
Otário?). Dá pra imaginar a cara de tacho do Papa nessa situação. Mas,
não graças a Gregório, claro, Luís voltou ao trono.
Após a morte do Imperador, um combate sangrento inicia-se pela
sucessão. Gregório tenta intervir… e mais uma vez prova sua inabilidade
política. Tirando essas trapalhadas, o papa construiu muitas igrejas e
tinha um gosto apurado para decoração. Há um retrato seu na abside da
Igreja de São Marcos. Papa de 828 a 844.
Sérgio II – Esse aqui era da escola Vigílio de “sou ladrão sim, e dai?”. Comprou todo mundo pra ser Papa e subiu ao trono sem esperar aprovação formal.
Luís (filho dO Piedoso) convocou um sínodo para ratificar sua
eleição, mas Sérgio II, O Naia, prestou juramento a Lotário que, a essa
altura, estava usando estratégias “Fernadinho Beira-Mar” de persuasão.
Papa por três anos, de 844 a 847.
São Leão IV - Foi eleito por unanimidade
no dia em que Sergio II morreu. Seis semanas depois, sem esperar a
anuência imperial, foi empossado. O principal motivo é o fato de uma
certa turminha com cimitarras na cinta estar a fim de transformar a
fábrica de óstias da Cidade Eterna numa fábrica de Homus Tahine.
Brincadeiras à parte, realmente os sarracenos estavam às portas de Roma
e não dava para esperar. Com os árabes na sua cola, São Leão IV o que
fez? Reforçou a fechadura, literalmente: construiu um muro de doze
metros em torno da basílica de São Pedro e firmou acordos de defesa
militares com as cidades costeiras da Grécia. Assim, criou uma barreira
no mediterrâneo contra os piratas do Simbad (é, sou do tempo dos filmes
de pirata do Simbad, procurem nas locadoras).
São Leão era um severo defensor da ortodoxia contra
as “pequenas libertinagens que alguns párocos adoram adotar”.
Determinou regras para atos penitenciais, além de acrescentar as
aspersões de água benta durante a missa. São Leão adorava música (era
monge beneditino) e incentivou seu desenvolvimento. Reconstruiu
Civitavecchia e também várias Igrejas. Seu retrato em abricot ainda
pode ser visto na Basílica Inferior de São Clemente. Papa de 847 a 855.
Bento III -
E, pra variar, após a morte de São Leão IV, o pau cantou na casa de São
Pedro. Sucessão complicada. O bispo Adriano recusou as sandálias do
pescador. Bento, outro bispo também, pulou fora, refugiou-se na sua
Igreja titular, mandado aquela marchinha “daqui não saio, daqui ninguém
me tira!”. Mais um Papa que foi sequestrado e levado à força para
Latrão.
Mas corria uma politicagem braba nos bastidores. Ocorre que o papa
anterior, São Leão, havia excomungado um cardeal, Anastácio, que era o
preferido do partido imperial. Aí rolou cacete pra todo lado. Como o
Papa precisava da sanção imperial, os partidários de Anastácio, à força,
arrancaram Bento III, o jogaram no xadrez e sentaram o cardeal excomungado no trono.
O povo de Roma se revoltou e a cidade ficou à beira da guerra civil.
Diante da turba enlouquecida, o partido do imperador cedeu e reconduziu
Bento III ao trono.
Passada a confusão, Bento III prosseguiu a obra de seus antecessores,
dedicando-se a reconstrução das Igrejas destruídas desde o tempo dos
romanos, inclusive a basílica de São Paulo. Papa de 855 a 858.
São Nicolau I, Magno - São Nicolau é o último das Papas Magnos, por isso terá um post à parte, assim como tiveram São Leão I e São Gregório I.
*****
No próximo post, continuaremos com os Papas do século IX e, preparem-se: tem intrigas e assassinatos
pra todo lado. A coisa tão feia para os pontífices que, a certo ponto,
tava difícil achar quem topasse ser papa, tamanha a encrenca que o cara
estaria se metendo.
Fonte: O Catequista
Por Paulo Ricardo em 30/01/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário